domingo, 11 de abril de 2010

divagação livre a propósito de portucale

pois lá fui de férias para portucale. portucale, para quem já se esqueceu, é um pequeno país do norte da península que, numa clara violação do direito internacional e dos direitos humanos das populações, veio por aí abaixo conquistando terras aos mouros, que na altura eram muito mais civilizados. tal facto histórico marcaria profundamente a história do território, mantendo-se o poder, desde então, na posse dos menos civilizados. diz a lenda que o nome vem de duas cidades situadas nas duas margens da foz do rio douro: portu e cale, cale evoluiu para gaia, enquanto o porto pouco mudou. eu gosto daquilo que nós temos que nos veio dos mouros, mas gosto também que os portucalenses tenham vindo por aí abaixo conquistando praças e castelos. eu gostei de ter vivido no extremo sul de portucale, em aveiro, de coimbra para baixo já começa a cheirar a sarraceno. e gosto muito do porto, onde és bem vindo se vieres por bem. no porto fui ver a casa da música, um edifício belíssimo do arquitecto holandês rem koolhaas. aquilo tem uma paredes todas tortas e dá para umas brincadeiras fotográficas. esta, por exemplo, chamei-lhe 'superman saves one more innocent victim' e pode ser usada com ironia. gosto da silhueta do superman do puôrto e gosto muito deste 'personagem' que faz de innocent victim logo aqui no primeiro plano. superhomens e vítimas inocentes... sempre presentes em qualquer agrupamento humano. às vezes ponho-me a pensar na perspectiva com que o sr. desmond morris olha para o homo sapiens: o olhar de um biólogo que tenta caracterizar uma das espécies animais mais complexas e com maior variabilidade de comportamentos intraespécie. e no entanto deixamos que essa riqueza se submeta ao instinto mais primitivo da normalização. somos um bicho estranho.


depois do porto fui até ao gerês, o mais antigo parque natural de portucale. é um pequeno hino à mãe natureza, bonito até dizer chega. ia lá muito quando estava em aveiro, cheguei inclusivé a fazer campismo selvagem (não me deixaram ficar no parque de campismo porque não tinha carta de campista) no meio dos lobos e das víboras. os lobos só existiam nas terras mais altas, mas as víboras, essas nunca se sabe. diz-se que são as unicas em portugal que matam um homem, mas em braga há soro antiofídio e o veneno é lento a actuar. mas são muitíssimos raros os acidentes com as víboras. agora então já devem estar mais ou menos extintas. estou a dizer isto para sossegar as mentes mais inquietas porque vale mesmo a pena conhecer os bosques e as escarpas do gerês. foi um regresso a casa. há sítios que são a nossa casa, alguns ainda nem sequer os conhecemos. à entrada do parque existe a albufeira da caniçada, que se estende por quatro vales que desenham os dentes e o cabo de um tridente. foi nas encostas da albufeira que ficámos, numa quinta de turismo rural. o caminho que passava pela nossa casa, serpenteava até à água, onde havia este ancoradouro. e esta paz. no domingo de páscoa passaram o dia a atirar morteiros. o som propagava-se em ecos sucessivos pelos quatro vales. todos os povoados das margens da albufeira deitaram as suas salvas, desde o nascer do sol até muito depois do seu pôr. e mesmo assim esqueceram-se de alguns, porque na segunda ainda houve quem morteirasse. todos os dias de manhã, o pessoal da quinta deixava um cesto com o pequeno-almoço no alpendre da nossa casa. a lenha a crepitar na lareira, o céu ora chuvoso ora estrelado, densamente estrelado. o gerês é portucale profundo, em estado semiselvagem. e eu gosto. fomos a umas cascatas, uns saltos que o rio homem dá pouco depois de se constituir como rio. fomos também por uma estrada daquelas com a berma a pique e a subir muito, em que a cada curva que se dá, o vale de onde estamos a sair ganha uma dimensão cinematográfica...

5 comentários:

São Grade disse...

Fixe, família Moreira! Ainda bem que se divertiram e relaxaram!
A 1ª vez que visitei o Gerês,foi o ano passado, em finais de julho. Não sei se porque não visitei os locais mais giros, se porque não sou apreciadora de montanhas que não tenham lagos ou mar à vista, ou porque nã estava praí virada , não gostei...desculpem! parece uma traição à pátria , mas olha ...prefiro os Alpes, os lagos italianos rodeados por belas montanhas...eh , pá gente fina!! Que querem?!!
Se calhar tenho que lá voltar e tu fazes de guia!!!Que tal??

nelio disse...

:) nem todos os sítios são a nossa casa... os alpes também não está mal mas cada sítio tem o seu charme. e lagos no gerês não faltam. são artificiais, mas estão lá.

Ana V. disse...

Tenho que digitalizar umas fotos da honey moon cá da je no Gerês onde tens lagos, cascatas, vegetação exuberante, em resumo só falta a neve dos Alpes e foi porque foram tiradas em Agosto.

Nélio, acho que devemos fazer uma visita guiada à São por terras portuguesas!

disse...

Oi
A malta cá se ficou pelo Al-Gharb, lagos aqui só o da Alameda, mas esse já nem tem patos nem nada!
Eh!Eh!
Ant Leal

Paulo Moreira disse...

gostei de ler. mas eu cá gosto muito de ser mouro. sou do sul.
e os anos que vivi em aveiro (e em que conheci melhor portucale) fizeram-me mesmo cantar, como vitorino, "vou-me embora, vou pró sul"
bjs amigos
PS mas fiquei com saudades de voltar ao gerês.