sábado, 28 de novembro de 2009

o melhor texto que conheço sobre a amizade

escolho os meus amigos não pela pele ou por outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. a mim não me interessam os bons de espírito, nem os maus de hábitos. fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. deles não quero resposta, quero o meu avesso. que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
para isso, só sendo louco.
quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
escolho os meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
não quero só o ombro ou o colo, quero também a sua maior alegria.
amigo que não ri connosco não sabe sofrer connosco.
os meus amigos são todos assim: metade disparate, metade seriedade.
não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade a sua fonte de aprendizagem, mas que lutam para que a fantasia não desapareça.
não quero amigos adultos, nem chatos.
quero-os metade de infância e outra metade de velhice.
crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
tenho amigos para saber quem eu sou. pois vendo-os loucos e santos, tolos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.

oscar wilde


este é o melhor texto que conheço sobre a amizade. está cheio de verdades simples e inquietantes. e penso que fica muito bem aqui.

3 comentários:

Carlos Canas Martins disse...

Excelente Nélio, concordo inteiramente :)

Luis Rocha disse...

O texto é belo e contém todos os ingredientes necessários à existência de uma amizade pura. Gosto de te ver usar letra minúscula depois dos pontos finais (viva a liberdade). De facto há certas regras impostas na Língua Portuguesa que foram convencionadas sem nos terem consutado e portanto reconheço-te esse direito:-)
Eu no entanto não consigo por sou um "Edito Estrelo" do caraças.
Abração para ti.

São Grade disse...

ainda não tinha comentado este post , porque fiquei...muda!
os teus textos deixam-me assim...apesar deste não ser teu, foste tu que o escolheste. é sempre a coisa certa, o sentimento adequado a palavra exacta que escreves e que diz tudo!!que caminhos te levaram até aqui?
talvez o giro do blog seja isto - o redescobrir o "ser e o estar" de cada um??!!