segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Praxe Académica em Coimbra ou "as pulgas, a lua e o FUNI-FUNI!"

Gente parva, encontramo-la por aí ós pontapés, mas gente porreira ainda mais!

Que querem, sou optimista!

Sem querer fazer discursos acerca das praxes ou sequer "vender peixe" acerca do seu interesse ou plo contrário da sua inconveniência, resolvi publicar aqui um texto que foi escrito por uma amiga da minha filha, integrado na sua praxe como caloirita do Curso de Comunicação Social.

Como caloira – “besta”- ela tinha que escrever um texto para entregar à sua Madrinha de Curso – a“Doutora” acerca da influência da lua na vida sexual das pulgas.

E foi isto que saiu!

Ora leiam!

1. Início



Esta é uma daquelas alturas da vida em que desejo ardentemente desaparecer e começar do zero.


O céu tornou-se tão escuro, tão nublado. O Sol foi-se, desapareceu. Sinto um frio que me gela os ossos, talvez devesse permanecer imóvel e deixar-me permanecer nesta dormência, neste sono acordado em que me encontro.


Mas não posso. As outras precisam de mim e não posso dar-me ao egoísmo. Aliás, a morte seria uma solução demasiado fácil para mim. Nunca fui de soluções fáceis – o destino nunca se mostrou muito amável em dar-me tais escolhas – por isso tenho que permanecer neste estado quebrado por uns tempos, mantendo-me frágil para meu próprio bem.


A minha justificação para este estado não vai para além de uma crise. É só mais uma. Tal como eu. Sou só mais uma numa família de milhões e por isso a minha insignificância aumenta a cada minuto que passa, pois a cada minuto nasce mais uma de nós e eu vou-me tornando cada vez mais insignificante.


Mas este estado que me envolve numa torpe decadência ajuda-me a viver, é graças a ele que me sinto viva e que me odeio. Sou tão insignificante. Tão banal. Tenho a mesma tez acastanhada das minhas irmãs, as mesmas oito patas, o mesmo gosto pelo sangue e o mesmo tempo de vida.


No entanto, não é a minha aparência, nem as minhas preferências alimentares que me preocupam, é o meu tempo. O tempo que me foi roubado. A minha vida que nem chega a ser vida. Ainda só tenho três dias de vida mas já só me faltam vinte e dois para morrer. E se para alguns este seria o momento de aproveitar a vida ao máximo, para mim este é o momento de chorar a minha sorte pois ainda não vivi.


Faltam duas luas para a contagem decrescente. Como fui marcada à nascença pelo cromossoma que faz de mim uma fêmea, sei que nasci para parir e morrer. Como tenho vontade de me rebelar contra isso! Quem me dera poder fazer algo para mudar o meu destino! Mas a lua dita o meu fim e por mais que eu corra não há por onde fugir.


No meu casulo, que ainda me protege da vida que lá fora começa e acaba, que de certa forma esconde a minha vida e a minha fragilidade, eu entrego-me ao inconformismo que me possui e me queima por dentro.


Porque tive eu de nascer assim?


Podia ser de outra espécie, uma outra que me permitisse viver mais… Quem me criou devia ter consciência de que me estava a condenar… Não entendo porque o fez…


No meio de tantos porquês entrego-me a sonhos e fantasias que me embalam abafando um pouco o meu sofrer.


Acordo.


Falta uma lua.


Só mais um dia e depois tudo acaba.


Durante a noite decidi que quero que as horas passem depressa, pois a partir do momento em que abandonar esta redoma deixarei de ser eu e passarei a fazer parte de um todo. Um todo que age como um todo e não como um. Um todo que não tem vontades, tem necessidades. Um todo que não tem vida, tem existência. Um todo que não é, apenas existe. Um todo em que eu me incluo, mas de que não faço parte. Um todo que eu odeio, mas de que eu não posso escapar.


Hoje choro.


Choro lágrimas invisíveis que me arranham as faces e que me queimam como ácido corroendo-me as entranhas… A dor não é nada comparada ao desespero.


Sei que se continuar a pensar nisto vou enlouquecer, mas não tenho forças para apartar este desalento, uma vez que é ele que me dá a certeza de que estou viva.


O fim aproxima-se…


Tal como eu, o sol vai morrendo para a lua nascer.


Amanhã, tudo se resumirá a procurar um macho para dar continuidade a uma vida que não será a minha…


Está a chegar.


Adeus a tudo o que não vi e queria ver, adeus a tudo o que não conheci e queria conhecer, adeus. Adeus. Adeus.


10,… 9,… 8,… 7,… 6,… 5,… 4,… 3,… 2,… 1.


A lua foi-se, o sol nasceu.


Está na altura de existir para um bem maior. Cumprir a minha função. Já não há mais viver. Acabou.


2. Fim

4 comentários:

Carlos Canas Martins disse...

Muito fixe, São. Perante o que lhe foi pedido, respondeu de uma forma que me surpreendeu, na sua idade, naquele contexto. Deve ser um ser humano daqueles que é sempre um grande prazer conhecer. De facto, no contexto em que isso se passa, em que grande parte dos caloiros tenderiam a construir um texto cómico, mais ou menos picante, esta miúda viu mais longe e foi mais longe ...e foi muito gira. Obrigado por o partilhares connosco. Um beijo.

São Grade disse...

fixe teres comentado.sinal que nã andas "áboari" muito alto...

Ana V. disse...

É pá! a moça escreve que se desunha.

Parabéns a caloira e à mãe super babada.

São Grade disse...

não foi a minha filha!
foi uma amiga dela e logo minha também! a minha é mais dada para a fotografia!
mas aceito os parabéns de Mãe de caloira!