"Um dos desafios e dos defeitos da prática (da meditação) é desenvolver o nosso sentido da atenção. Esta disciplina não é um acto religioso, mas o gesto mais vulgar possível. Tal não exige nenhum dom particular. Não é reservado a uma elite. Consiste apenas em escutarmos a vida: Estás aqui, estás vivo; deixemos esta situação ser como é (...) Ao olhar com uma neutralidade desejada as nossas sensações, as nossas emoções e os nossos pensamentos, mudamos a nossa relação com elas. Prestamos mais atenção e, por exemplo, não passamos a ouvir da mesma maneira (...)Mais importante do que os conhecimentos são a abertura de espírito e a qualidade da nossa atenção. Estar presente muda tudo. (...)beber um copo de água, falar com alguém, ouvir um trecho musical, prestando atenção àquilo que acontece, muda verdadeiramente a nossa relação com essas experiências. Em vez de responder em piloto automático, podemos religarmo-nos àquilo que existe. Se, por exemplo estou atento quando tomo a minha refeição, em vez de ouvir rádio em simultâneo, posso apreciá-la melhor e descobrir a vastidão das minhas percepções e sensações. O sagrado e a poesia refugiam-se aí. (...) A atenção coloca-nos no centro de nós próprios. Reconcilia-nos. Ora à força de ter coisas para fazer, que se sucedem sem interrupções, perdemo-nos. Dizemos que temos falta de tempo. De facto, andamos a correr. Mas, o que queremos dizer então, é que o espaço do exterior e do interior estão em conflito. Rainer Maria Rilke comprometeu-se a "fazer do lugar interior o lugar imperturbavelmente decisivo". (...) em certo sentido, nada mais simples: relacionarmo-nos com aquilo que somos. Habitar o lar da nossa vida. (...) Sem estar à escuta deste espaço interior, já não somos capazes de estar relacionados seja com o que for. Um ser que nos comove, um gato que se aninha nos nossos joelhos, a água que jorra da fonte, como dar-lhes a possibilidade de nos tocar, como corresponder-lhe sem preservar o espaço em que podem ressoar em nós? (...)
Cultivar a atenção é descobrir a imensidão da presença, o seu movimento sempre novo e aberto." (Midal, Fabrice; Inventar a Liberdade, trad. de Jorge Pinheiro, Rio de Mouro, Ed. Circulo Leitores, 2010,p. 60 - 62)
Quis deixar-vos estes excertos como uma sugestão para acolhermos a Prima Vera. Com a nossa profunda atenção, em cada passo, em cada respiração, em cada momento. Vale a pena teimar a cada momento a regressar à nossa atenção pois o nosso pensamento e hábitos são como cavalos selvagens atropelando-se nas ideias e no tempo. experimentemos...Uma boa semana malta!
TPC- Cinema: Alice no pais das maravilhas...
vossa m.
2 comentários:
Ás vezes bastava que respirássemos mais devagar. Na correria da vida nem isso fazemos como deve ser...como é diferente quando inspiramos em profundidade e expiramos todo o ar que cá temos. Ficamos bem mais calmos...
É mesmo!
Eu não sei o que faço ao meu tempo... desgraço-o, escangalho-o todo...resmungo de que não tenho nenhum para mim, receio não ter emprestadoo suficiente aos meus amigos e familiares, as minhas filhas mandam-me indirectas ( e a mais pequenina, menos controlada pela cortesia) directas, que não lhes dou o tempo que precisam!
Só o meu "manel" nã se queixa!Coitadinho!Também ele anda num reboliço!E pra resmungar, já cá estou eu! Ufa!!!
Eu tento absorver cada momento bom, mas acho que na maior parte das vezes estou como tu falas Meguy, em piloto automátivo...zimba...é sempre a abrir...
ai ai
e hoje não tá dia de "prima vera"! tá um dia "nhoca"...
outra vez ai ai
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