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O Nélio pediu e eu aqui estou, para nesta noite fria e chuvosa de sexta-feira, contar algumas coisas sobre mim.

Há uns anos acabei por optar pela minha segunda hipótese de escolha profissional: um curso de Decoração de Interiores, com a duração de três anos e na altura apelidado de curso médio. A primeira opção era direito, não para ser advogada, obviamente, não tenho apetência por tal, mas para ser jurista e trabalhar eventualmemte no notariado. Depois de concluído o curso, que abarcou temas como design, história do mobiliário, história de arte, desenho de móveis e arquitectura de interiores, entre outros, trabalhei em lojas de mobiliário e decoração. As promessas eram de trabalhar na área da decoração, mas rapidamente cheguei á conclusão que não passava de um Bluf. Quando surgiu a oportunidade de ir trabalhar para a CMLisboa, numa área que tinha a ver com a promoção dos Mercados de Lisboa, organização de exposições e feiras, concepção de diferentes materiais, não hesitei e é aí que trabalho há 21 anos. As coisas evoluiram muito desde então. Já não faço maquetas à mão. Faço em computador utilizando programas como o corel draw, freehand, pagemaker, ou Photoshop. Para isso tive que me actualizar. Faz parte do nosso progresso. Se me perguntarem se me sinto realizada, posso dizer-vos que às vezes sim, outras vezes nem por isso. Já houve alturas em que fiz trabalhos que me deram um gozo especial, a ilustração de um jogo para crianças por exemplo. Noutras faço porque tenho que fazer. A área onde trabalho depende muito das verbas, e se há contenção, como neste momento, trabalha-se um bocado para aquecer. Entretanto a CM está em reorganização de serviços, respeitando as novas regras para a a Admistração Local e por isso a minha postura é de espectativa, mas com alguma serenidade (aquela que é possível)-

Na minha vida pessoal, prezo muito e acima de tudo a Família. Não tive os filhos que tinhamos sonhado (8), eu porque cresci no meio de 4 irmãos, o Zé porque se cansou de ser filho único. tivémos 2 filhotas, das quais já vos falei, o terceiro não aconteceu, e os restantes ficaram em sonhos. Com elas cresci muito, aprendi a dominar o medo do escuro (o Zé é oficial da GNR e faz serviços de 24h), a ser Mãe e Pai em muitos momentos. Fiz o melhor que pude. Houve momentos difíceis, não é fácil ser Mãe, mas acho que os bons momentos acabam por superar os menos bons. Aprendi muita coisa com os anos, e nos momentos menos bons aprendi que tinha que me defender. Por isso hoje em dia procuro não antecipar situações. Tanto quanto me é possível afasto os pensamentos menos bons, embora como disse a São, á noite nem sempre seja fácil.

Gosto de cozinhar, de reunir a família, os Apêndices (namorados das garotas), como o Zé lhes chama e os amigos. Gosto de preparar tudo até ao pormenor. Sou organizada, reconheço, e stressada com as horas. Acho que aprendi com o meu Pai que não esperava por nós nem um segundo, quando combinava alguma coisa (no entanto espera muito pela minha Mãe). A Matilde costuma dizer uma frase que me irrita "não stresses Mãe", sobretudo porque na pontualidade não sai á Mãe de todo.

Enfim já vai longo este testemunho. Ao longo destes anos mudei, acho sobretudo que cresci e a verdade é que se quando me olho ao espelho com olhos de ver (sobretudo com óculos, porque estou míope de todo) e tenho alguma mágoa pelas rugas que vão aparecendo e pelos sintomas da idade, por outro não queria voltar atrás, porque o caminho percorrido até aqui, em todos os planos´tem sido enriquecedor. Venci muitos medos, mostrei a mim mesma que era capaz, talvez porque tenho a meu lado alguém que me dá muita força, e em alguns momentos surpreendi-me a mim mesma. Como a São disse aguento estoicamente nos maus momentos, mas a seguir ´vem a ressaca. E ás vezes a ressaca é pior. É asim que estou neste momento, preparando o Natal que vai ser em nossa casa, mas vivendo ao mesmo tempo a ressaca da morte da minha sogra há dois meses. Vou-me calar, já chega! Fico á espera de ler o vosso testemunho.