sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

As minhas várias vidas

Parece-me bem que este blog anda um pouco deprimido/deprimente :)
Assim, para mudar o ambiente, vou eu tentar “apresentar-me” àqueles que comigo menos têm convivido desde os tempos em que me chamavam “Paulo Poeta” e também para os outros que comigo deixaram de conviver depois que me passaram a chamar PP – não de poeta, mas sim de Pescoço – em virtude de uma deformação congénita que me dá esta postura permanentemente erecta :)
Cá vai:

Terminado o liceu impunha-se pensar num curso superior e vai daí pensei que a Física Nuclear (!) era uma escolha gira e lá fui (acabando por ser colega do JJ, lembram-se dele?). Contudo, chegado a Lisboa este vosso amigo que até aí era muito certinho abriu os olhos para o mundo e para as gentes e vá de experimentar tudo! Como disse o Nélio, foram “anos de experiências e de testar limites”. Deu-me para começar a experimentar áreas artísticas como a literatura, a pintura e a música, desviando-me cada vez mais das ciências exactas, que como sabem não se fazem “com uma perna às costas”, pelo que comecei a chumbar, coisa que até aí ninguém julgaria que um dia pudesse acontecer ao menino certinho que era eu.
Uma das experiências que tive, unicamente para me desinibir um pouco, foi o teatro, num curso que frequentei com o Nélio e que haveria de vir a mudar a minha vida, sem que eu então disso tivesse consciência, pois que até aí eu não gostava nada de teatro.

Nesse mesmo ambiente “tresloucado” de Lisboa iniciei também a minha vida sexual e finalmente fui obrigado a reconhecer que a minha identidade sexual não era exactamente como vinha nos manuais sobre o assunto… Posto isto “soltei a franga” (sem muitas plumas) e vá de curtir até que… fiquei (muito) doente com uma hepatite B, e tive de voltar a casa dos pais onde fiquei acamado durante um ano. À minha volta as gentes olhavam para mim como se eu, então com 26 anos, tivesse os dias contados e eu mesmo acreditei que não ia chegar aos 30. Já com a sintomatologia quase desaparecida e farto de estar à espera da morte (não estou a exagerar) decidi-me então sair para a rua e tentar viver o que me restava. Fui então dar aulas e viver em Olhão durante um ano.
Tendo-me consciencializado de que a minha licenciatura incompleta em Ensino de Física (havia entretanto mudado ligeiramente de área) não me daria um grande futuro na carreira docente pensei então em voltar a estudar para acabar o curso, só que a grande Lisboa (que eu havia adorado, como o Nélio) já não me seduzia com o seu stress, que não seria indicado para a minha condição clínica de “ainda convalescente crónico”. De uma conversa com a Pino (que se havia tornado a mulher do Nélio) surgiu então a ideia de ir acabar o curso em Aveiro (cuja geografia é, de facto, muito parecida com a de Faro – embora o frio e o vento…).
Nessa linda cidade voltei então aos estudos, já não como estudante cabulante, mas sim como um adulto consciente e lá consegui acabar a Licenciatura em Ensino de Física e Química… 12 anos depois de a ter iniciado em Lisboa! (Não digam isto aos vossos filhos!) Dito isto gosto também de dizer que, para me redimir, já fiz entretanto dois Mestrados (sendo que no 2º não me dei ao trabalho de fazer a tese). Sendo eu professor vê-se assim que sou um “profissional” do sistema educativo :) não tendo saído da escola desde os 5 anos.
Em Aveiro envolvi-me no meio académico e fiz uma certa carreira como cantautor, sendo que uma das minhas músicas - “Barco de Aveiro” - acabou por se tornar (desculpem a imodéstia, mas é verdade) num hino da Universidade sendo inclusivamente executado – fiquei há pouco tempo a saber – nas cerimónias de entrega de diplomas (!). Quem quiser pode ouvir a música no YouTube escrevendo “Se eu fosse um barco de Aveiro”, quer interpretada por mim, quer interpretada por tunas universitárias. E chega de música, pois assim que voltei para o Algarve fechei (nem sei bem porquê) essa minha “carreira”.
Nessa mesma cidade voltei ao teatro (pela mão do Nélio, diga-se) e desde aí nunca mais larguei essa área que nos últimos anos se tornou a principal (em detrimento da Física e Química).
Terminado o curso, fiquei ainda uns anos em Aveiro tendo começado uma relação conjugal de 7 anos com uma pessoa que alguns de vós conhecem – só que nessa altura o casamento gay ainda não era legal :)
Entretanto Aveiro esgotara o seu interesse e pensei(pensámos) ir para… Macau – então à beira de passar para o controlo chinês. Só que a coisa não se concretizou e, quando dei por mim, em vez de ir para o outro lado do mundo, estava perto de casa, em Albufeira. Lá regressei, um pouco contrariado, ao Algarve e… já cá estou à 14 anos (que não me engano nas contas). Na verdade este clima não tem igual nesta parte do mundo e até se tem uma qualidade de vida superior à de uma grande cidade.
Entretanto “divorciei-me” e nos últimos 5 anos (mais coisa menos coisa) arranjei uma namorada, a Isabel, com quem conto partilhar os netos (ela tem dois filhos) e a terceira idade (cruzes canhoto!) que já ronda à distância.
A nível profissional sou actualmente professor de teatro na Esc. Sec. de Albufeira (da qual já faço parte da mobília) e trabalho também com a ACTA (A Companhia de Teatro do Algarve), na maior parte das vezes como encenador.
E pronto! Assim sou eu, sempre oscilando entre interesses variados, como uma espécie de Fernando Pessoa – perdoe-se-me a comparação – com os seus múltiplos e antagónicos heterónimos – mas “uno na multiplicidade”.
(Como diz o Woody Allen, “uma vida sem amigos é como usar umas cuecas sem elástico”, motivo pelo qual aqui me expus.)
Beijos e abraços a todos

4 comentários:

São Grade disse...

concord contio! detesto cuecas com o elástico frouxo. agente não se sente bem! Ou as temos e são justinhas ao corpo ou mais vale não usar mesmo ( o que também , diga se de passagem acho ( nunca experimentei) que deve ser um pouco incómodo andar nesses propósitos fora de cas m esmo que sejamos os únicos a saber!!
Pra além desta "metáfora" da cueca, que acho perfeita , gostei de ouvir. Alguns trajectos eu conhecia , outros não tanto.espera vou pssar pra a outra banda...

Carlos Canas Martins disse...

Quando, muitas vezes, falamos de nós próprios, falamos apenas, quase levianamente, dizendo 2 ou 3 coisas acerca de nós, algumas se calhar até relativamente significativas na nossa vida mas que na maioria das vezes ficam apenas pela superficialidade. Habituamo-nos a achar isso suficiente ...é pena. Tu, Paulo, falaste-nos de ti, DISSESTE quem eras, trataste-nos como os AMIGOS que tanto apregoamos ser. Obrigado.

Lena OR disse...

Olá Pau lo! Adorei (re)conhecer-te. Acho piada quando vos ouço, ou melhor quando vos leio. Sempre pensei que tinham voltado ao Algarve, por opção própria. constato, no entanto, que pelo menos tu e o Nélio, andaram por outras bandas e só voltaram porque a bússula da vida vos apontou as terras do Sul.
Falaste-nos do teu percurso, com toda a frontalidade, como se nos tivesses a abrir o livro da tua vida. Nem toda a gente consegue fazê-lo, podes crer.
A vida distanciou-nos muito, cada um fez o seu percurso e as suas opções e cada um é feliz à sua maneira. É isso que acho que importa.
Um bjnh muito grande PP

m. disse...

Olha...gosto de ti, porra!!!
m.