segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Intervenção Precoce


Então cá vai disto!

A pedido de várias famílias, vou tentar explicar o que ando a fazer pra ganhar a vida!

Arregaço as mangas, exercito os meus 2 indicadores, brinco com o anel e avanço…

Depois de alguns passeios erráticos por outras áreas da psicologia, umas vezes por gosto e outras sem gosto nenhum, vim parar aqui à APPACDM que é uma Instituição que dá apoio a pessoas com deficiência, essencialmente mental mas também a indivíduos que se perderam plo caminho da vida e/ou outros que nunca o encontraram.


Assim, sou uma espécie de governanta (como aqueles filmes ingleses…) com chave do portão principal e assento à mesa das refeições. E a directora é a patroa !

Estão a acompanhar –me?

Portanto, faço e desfaço, organizo e mando organizar, mexo e remexo, invento e reinvento. Quando são assuntos mais sérios converso com a patroa, quando não são, adiante…

No fundo, o meu trabalho é assegurar-me que todos estão felizes e contentes, criadagem (funcionários) e família (utentes)! pois que a maioria dos nossos utentes são já “cotas” e precisam é de actividades agradáveis, confortáveis e divertidas ( para além das terapêuticas, de formação profissional ou de reabilitação que fazem parte do “pacote de serviços” )




Uma das áreas em faço alguma coisa é a Intervenção Precoce, que como já disse, é a minha área de eleição. Faço parte de uma Equipa de intervenção directa do PIIP (projecto integrado de intervenção precoce) desde 1991.



Este projecto inspirou-se na experiência da I.P. dos nossos amigos “amaricanos” , com os quais tivemos imensa formação específica e dos quais também adaptámos os materiais e metodologias que utilizamos actualmente ( e como os gajos gostam muito do “sol inho” português , volta e meia estão cá a fazer nos mais formação…espertos!!!)


Cada equipa deveria ser transdiciplinar e ser constituída por: uma psicóloga, uma educadora de infância, uma enfermeira, uma médica, uma assistente social - alias é assim que está consagrado na lei!! mas na nossa Equipa somos apenas 2 ( mas como diz a minha colega, somos 4 - eu, a educadora, a educadora e eu - faz 4!!)




O que agente faz ou tentamos fazer: para além do apoio directo às criancinhas pikninas dos 0 aos 3 anos (ou às vezes ficamos com elas até…vir a mulher da fava rica) com aquelas coisas todas de estimulação blá blá blá, que pode ser feito em casa ou na creche, aquilo que é realmente específico e particular deste projecto é o apoio que damos às famílias.

Falamos com elas “como se elas não fossem muito ( nem pouco) burras”, avaliamos os rebentos que nos são encaminhados ou pelas maternidades, hospital pediátrico, centros saúde ou pelos próprios Pais, encaminhamo-las para os serviços que melhor podem dar resposta às diversas patologias, acompanhamo-las às consultas, e traduzimos para português aquilo que os Srs. Dótores médicos e psicólogos lá desbobinaram e que por vezes até nós temos dificuldade em perceber.




Somos nós quem lhes diz que aquilo que os cachopos têm, tem solução ou somos aqueles que lhes diz que as gracinhas dos seus filhos não são propriamente gracinhas mas sim indicadores de que algo não está nada bem.




A intervenção precoce ensina ou dá sugestões aos Pais para fazerem o que devem fazer e explica lhes o porquê da importância das sua acções! É por isso que a nossa filosofia é - “apoio centrado na família” .Sem stress, sem pressão, no dia a dia há coisinhas que fazem toda a diferença como por exemplo não deixar o moçoilo todo o dia enfiado no “ovinho” mas escarrapachá-lo no chão e de barriga para baixo.???? Hum??? Pois! É óbvio não é? Não, não é, às vezes não é!

Para mim é um trabalho muito giro e gratificante,( adoro bebés) mesmo quando somos “porta-voz da desgraça”.Feito “ tal como manda a sapatilha” e com interesse e motivação tem inúmeros benefícios para as crianças e para as Famílias sobretudo no que respeita à sua capacitação enquanto promotores do desenvolvimento dos seus filhos e da mudança das próprias suas famílias.


Não damos dinheiro a ninguém, não damos dinheiro, nem somos Madres Teresas de Calcutá, é uma metodologia de trabalho! Mas ou se têm inclinação para a coisa ou então funciona. Temos de deixar-nos de “peneirices” e curarmo-nos daquilo que chamo o “síndrome do perito” deixando de pensar que só nós é que temos razão, só nós é que sabemos e que tudo tem de ser feito ao nosso gosto e medida, pelos nossos padrões e valores familiares. Nem sempre é fácil, porque se encontramos famílias “assim” também “encontramos” famílias assado ( daquelas que apetece dar palmadas no rabo!




Ainda aí estão??

Escusado será dizer quem são os modelos nas fotos, né???

6 comentários:

Lena OR disse...

Olá São, obrigada por este retrato vivo, do teu trabalho. Pensava que trabalhavas só com crianças e jovens. Percebo agora que a tua área de intervenção abrange várias faixas etárias.
Apesar do enorme desgaste que este tipo de trabalho exige (por muito que não se queira algumas situações mais complicadas, acabam por mexer connosco) a verdade é que qualquer resultado que surja, deve ser extremamente gratificante...

Inês disse...

Boa Tarde São! Gostei bastante de ler o que faz a nível profissional... Deve ser um orgulho para si, ver o resultado do seu trabalho! Gostei mesmo bastante.
Um Beijinho

nelio disse...

como podes imaginar, estou bem familiarizado com a intervenção precoce. nestas situações há que aproveitar a plasticidade neurológica dos primeiros anos para potenciar as capacidades dos catraios. infelizmente, nem toda a gente que opera nestas áreas tem a tua postura de sensatez. acredito que intervir numa área tão sensível para as famílias não seja nada linear. a mim lixa-me quando sobressaem os egos dos adultos e a criança passa a ser um utensílio para a afirmação pessoal dos profissionais ou dos pais, que acredito tb aconteça.

Paulo Moreira disse...

adorei saber do teu trabalho. acredito que tenhas prazer, isto é, que acredites no valor do teu trabalho.
tal como eu, no meu de prof.
ainda hoje fiquei a saber que um aluno que eu achei que deixara de vez a escola, abrevio o filme do personagem, afinal era capaz de voltar pois tem estado a faltar para companhar a avó que foi... violada (!!). a realidade é mesmo mais estranha que a ficção! e esse/este mundo real está mesmo à nossa porta - daí que apareça no correio da manhã ou na TVI.
bjs fofos, são.

São Grade disse...

é tal e qual! O "sindrome do perito" ataca forte e feio! ou aqui só pra nós, as "caganças " de quem têm a mania qu sabe sempre mais que os outros e que as famílias têm que ser moldadas à semelhança dos nossos padrões e valores! Agora se isto é verdade para os casos de patologias declaradas que muitas vezes não há muito que discutir , imagina o que se passa com as criaças que também temos em "risco ambiental"...normalmente enviadas pla cpcj... ui é um martírio!!

m. disse...

Moça linda...fornecedora de colos, abraços de urso e sorrisos com a timidez do Inverno...quando se gosta das pessoas, gosta-se desse duro trabalho que fazes, creio. Este apoio humano e compensador não é valorizado pela sociedade em volta. Coisa de cuidadores...têm vocação e podem ser meio voluntários no que fazem...passar o tempo a falar com as pessoas também eu faço! Psicólogo e louco...Deixá-los, o que importa mesmo é o Amor. Ainda não me tinhas falado com este detalhe do teu trabalho e não te fazia na intervenção precoce. Um abraço de ursa pra ti tamém.